quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Refletir sobre o Holocausto


27 de janeiro é o Dia Internacional de Memória do Holocausto. Um dia para não esquecer os milhões de vítimas do regime nazi, nomeadamente o horror vivido por homens, mulheres e crianças deportadas de toda a Europa para os campos de concentração, entre eles Auschwitz-Birkenau, na Polónia, libertado pelas tropas da extinta União Soviética a 27 de janeiro de 1945.

A Organização das Nações Unidas instituiu a data em 2005 para manter viva a memória deste acontecimento, um dos mais trágicos da História da Humanidade.

Não é fácil refletir sobre o Holocausto, pois entra-se num mundo de horror, de ódio, de perseguição, de cegueira ideológica, de estupidez, de conivências e de omissões. Mas a tarefa, ainda que dolorosa, é necessária para que o passado não seja esquecido e a consciência ética não seja ofuscada.
O percurso histórico da Humanidade revela o que o ser humano é e do que ele é capaz. Pensar o Holocausto é voltar-se para a dimensão mais obscura e terrível da condição humana e ver que o ser humano foi capaz de produzir uma tragédia tão grande que nos faltam palavras suficientes para expressar o seu horror.
O mundo não é mais o mesmo antes e depois do Holocausto. A presença do mal é de tal maneira sufocante que muitos se recusam a aceitar um sentido para a vida. Como dizia o Theodore Adorno (1903-1969), filósofo alemão e um opositor convicto do nazismo:
"Depois de Auschwitz, a sensibilidade não pode deixar de ver em toda afirmação da positividade da existência uma charlatanice, uma injustiça para com as vítimas, e tem de revoltar-se contra a extração de um sentido, por abstrato que seja, daquele trágico destino".
Um sobrevivente do Holocausto declarou que a Europa se tornou um lago de sangue congelado. No continente de Beethoven, Goethe e Mozart, as ideais do humanismo, do cristianismo e da democracia foram terrivelmente despedaçados.
Por conseguinte, a palavra “Shoah” é adequada para descrever uma tragédia de tão ampla magnitude. "Shoah" é uma palavra hebraica que significa extermínio e devastação, e é usada para se referir ao Holocausto.
Já o termo "Holocausto" tem origem grega e pertence ao mundo religioso: significa o sacrifício em que uma oferenda é inteiramente consumida pelo fogo. A ideia de holocausto, aplicada ao massacre de homens, mulheres e crianças nos campos de concentração do Terceiro Reich nazi, pretende significar a abrangência da matança, que foi um verdadeiro genocídio. Estes campos de concentração exterminaram 6 milhões de judeus e 5 milhões de não-judeus, que incluíam polacos, russos, homossexuais e opositores de diversas correntes políticas ao nazismo.
O impacto do Holocausto na consciência ética da Humanidade foi tão profundo que levou à adoção da Declaração Universal dos Direitos do Homem pela Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948.
Analisando a história das relações entre cristãos e judeus, depois do Holocausto, da Segunda Guerra Mundial e do Concílio Vaticano II, muita coisa mudou. As principais confissões cristãs não sonham com o retorno à cristandade de outrora, com os seus privilégios e distinções. Aceitam a sociedade moderna pluralista e a autonomia das realidades temporais. Aceitam a democracia e mudaram a sua forma de encarar os não-cristãos.
Nós não somos prisioneiros do passado e não estamos condenados a repeti-lo. O ser humano, imagem e semelhança de Deus, é livre e capaz de conversão, não só de uma forma pessoal, mas também de uma forma coletiva, ainda que ela se faça num processo de avanços e recuos.

Uma consequência da Segunda Guerra Mundial e os seus impasses, é que os cristãos de diversas confissões conquistaram uma consciência mais nítida de sua missão que inclui a defesa dos pobres e oprimidos.

Como cristãos, partilhamos com profundo respeito e compaixão a experiência de extermínio sofrida por todos os que sofreram nas mais diversas formas de autoritarismo e pelo povo judeu em particular.

Desejamos que a nossa tristeza nos leve a novas relações com o povo judeu, sem antissemitismos, desconfianças e ressentimentos, mas com respeito recíproco compartilhado, como convém àqueles que adoram o único Criador e Senhor e têm um mesmo pai na fé, que é Abraão.

A consciência cristã aprendeu com o povo judeu que o Universo e a Humanidade são criações divinas, que Deus é fiel às suas promessas, e que Ele tem o poder de ressuscitar os mortos.

Por isso, o mundo tem sentido, a vida vale a pena ser vivida e a morte do justo não é em vão, pois todo o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, tem direito a uma vida livre e digna.