quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Concílio Vaticano II: 50 anos depois



No presente ano, celebra-se o 50.º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, um dos acontecimentos mais significativos do Cristianismo nos últimos dois séculos.
O Concílio Vaticano II, como ficou conhecido o XXI Concílio Ecumênico da Igreja Católica, foi convocado no dia 25 de dezembro de 1961, através da bula "Humanae salutis", pelo papa João XXIII, que o inaugurou no dia 11 de outubro de 1962. O Concílio só terminou no dia 8 de dezembro de 1965, no papado de Paulo VI.
O grande desejo de João XXIII era de que o Concílio Vaticano II fosse um segundo Pentecostes para a Igreja, O Vaticano II foi uma autêntica irrupção do Espírito de Deus sobre a Igreja, um acontecimento salvífico. Com efeito, existe “antes” e um “depois” do Vaticano II.
O contexto histórico do pós-segunda Guerra Mundial, nomeadamente as profundas transformações sócio-económicas das sociedades ocidentais, a presença crescente do Terceiro Mundo, dinamizada em grande parte pelo fim dos impérios coloniais europeus, o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa e as mudanças nos domínios da cultura e dos costumes, bem como o contexto teológico-pastoral – emergência das teologias da história e transcendental, desenvolvimento dos movimentos litúrgico e bíblico, retorno às fontes patrísticas, aparecimento da Ação Católica – não deixaram de pesar na decisão histórica do papa João XXIII.
Sendo um profundo conhecedor da situação da Igreja Católica, João XXIII era um ser humano genuinamente preocupado com o relacionamento da Igreja com a Humanidade.
Neste âmbito, o Concílio debruçou-se sobre a melhor maneira da Igreja Católica renovar as suas estruturas internas e de servir o mundo, bem como para a promoção de uma nova forma de relacionamento com as demais confissões cristãos e as outras religiões, contribuindo deste modo para uma consciencialização mais profunda da unidade do género humano.
A relevância do Concílio deve ser valorizada na receção que lhe foi dada pelas comunidades cristãs, católicas e não católicas, e por outros setores da sociedade em todo o mundo As implicações dessa receção foram o desenvolvimento das conferências episcopais e dos sínodos, a valorização das Igrejas locais, a promoção do papel dos leigos, o surgimento das teologias contextuais — libertação latino-americana, negra africana, negra sul-africana, negra norte-americana, asiática, indígena — e o florescimento de novas correntes teológicas que buscam responder aos desafios atuais da humanidade, como a teologia feminista e a teologia ecológica.
Passado meio século, ainda não se concretizou plenamente a esperança de  uma Igreja em comunhão com a Humanidade, promotora da unidade, servidora do Reino de Deus.
A Humanidade dos nossos dias não pergunta à Igreja pela estrutura mais exata e bela da liturgia, nem por um regime mais ou menos ideal da cúria romana, nem tão pouco pelas divergências teológicas que distinguem os cristãos das diversas confissões. Interpela se a Igreja pode testemunhar a proximidade orientadora do mistério inefável que chamamos Deus.
Por conseguinte, a Igreja Católica e as demais Igrejas cristãs precisam de concentrar-se no essencial, ou seja, voltar a Jesus e ao Evangelho, promovendo uma evangelização que leve a uma experiência espiritual de Deus. É tempo de espiritualidade e de mística. E também de profecia em relação ao mundo dos pobres e dos excluídos, que são a grande maioria da Humanidade, e em relação ao planeta Terra, cujo equilíbrio ecológico está gravemente ameaçado. Mística e profecia são fundamentais nos nossos dias. Os cristãos tem a responsabilidade de gerar esperança e sentido a um mundo dilacerado pela guerra, pela pobreza e pela exploração desordenada de recursos essenciais para a vida das gerações atuais e futuras. É preciso ir ao essencial. E não nos devemos deixar enganar, não cair na velha tentação de tocar violino enquanto o Titanic afunda-se…
Nesse tempo de crise e de incerteza, os cristãos devem afirmar que, no meio do caos, está presente a Ruah, o Espírito de Deus que pairava sobre o caos inicial para gerar a vida, o mesmo Espírito que inspirou Jesus e o ressuscitou de entre os mortos.
Da crise da atualidade, pode surgir um tempo de graça, uma Igreja renovada, mais universal e evangélica, que promova a comunhão com os crentes das demais religiões e todos os seres humanos de boa vontade, tendo como finalidade fazer da Terra um planeta no qual todas as pessoas não sejam atormentadas pela guerra, pela fome e pelo medo, e possam viver de uma forma livre e digna.