segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Viver o Evangelho com Amor

As sociedades ocidentais e a sociedade portuguesa em particular vivem uma conjuntura particularmente difícil, que afeta a generalidade dos seus membros e particularmente aqueles, que são cada vez, que se encontram numa situação sócio-económica mais vulnerável.
A presente crise deve ser uma oportunidade privilegiada de discernimento critico sobre as suas causas e as soluções necessárias para a sua superação.
Para além das suas dimensões económica e social, a atual crise não deixa de ser cultural e de valores.
Por isso mesmo, para além da indispensável atuação dos poderes públicos e das organizações da sociedade civil, a superação da atual crise requer uma mudança de consciência a nível individual e coletivo.
Todos os homens e mulheres que vivem neste planeta possuem uma dignidade essencial e direitos fundamentais, mas têm igualmente uma responsabilidade inegável pelo que fazem ou deixam de fazer. Todas as nossas decisões e atos, assim como as nossas omissões, têm consequências.
Os cristãos têm uma responsabilidade especial em manter viva essa responsabilidade, aprofundá-la e transmiti-la às gerações atuais e futuras.
As alegrias e as tristezas, as esperanças e as angústias dos seres humanos de hoje, sobretudo de todos aqueles que sofrem com as diversas formas de exclusão e de violência, devem ser também
as alegrias e as tristezas, as esperanças e as angústias dos discípulos de Jesus Cristo, e não existe nenhuma realidade verdadeiramente humana que não deva encontrar eco no seu ser.
Os cristãos devem procurar cumprir fielmente os seus deveres terrenos, guiados pelo espírito do Evangelho. Erram os que, sabendo que não temos aqui na Terra uma realidade permanente, pensam que podem por isso descuidar os seus deveres terrenos, sem terem em conta que a própria fé os obriga a cumprir com maior intensidade, segundo a vocação própria de cada um. Mas não menos erram os que, pelo contrário, consideram poder entregar-se às ocupações terrenas, como se estas fossem inteiramente alheias à vida religiosa, a qual pensam consistir somente no cumprimento dos atos de culto e de certos deveres morais. Esta separação entre a fé que se professa e o comportamento quotidiano deve ser considerado como um dos mais graves erros do nosso tempo.
Os cristãos têm a responsabilidade de cultivar uma espiritualidade orientada para o mundo contemporâneo, que contribua para a sua regeneração como homens e mulheres novos, inseridos na sociedade, santos e santificadores, seguindo o exemplo de Jesus Cristo.
A espiritualidade acima mencionada edifica o mundo segundo o Espírito de Deus; torna capaz de olhar para além da História, sem dela se afastar; de cultivar um amor apaixonado por Deus, sem tirar o olhar dos irmãos e de os amar como Ele os ama. É uma espiritualidade que confere unidade, sentido e esperança à existência, tantas vezes contraditória e fragmentada. Animados por tal espiritualidade, os cristãos podem contribuir, à maneira do fermento, para a santificação do mundo, através do cumprimento do próprio dever, guiados pelo espírito evangélico, e a manifestarem Jesus Cristo e a sua mensagem aos outros com o testemunho da sua própria vida.
Na vivência existencial do cristão, não pode haver duas vidas separadas: por um lado, a vida chamada “espiritual”, com os seus valores e exigências; e, por outro, a chamada vida “secular”, ou seja, a vida da família, do trabalho, das relações sociais, da cultura e da participação cívica e política.
Os cristãos, em estreita colaboração com todos os homens e mulheres de boa vontade, têm a responsabilidade de contribuir para uma sociedade na qual a dignidade da pessoa humana seja verdadeiramente promovida e valorizada.
Para tornar a sociedade mais digna da pessoa humana, é necessário revalorizar o amor fraterno na vida social - nos planos político, económico, cultural e ecológico - fazendo dele a norma suprema da nossa ação.
Se a justiça é, em si mesma, apta para uma partilha mais justa e equitativa dos direitos e dos deveres entre os seres humanos, somente o amor é capaz de libertar o ser humano na sua plenitude. Não se pode regular as relações humanas unicamente com a medida da justiça. Esta, em toda a diversidade das relações humanas, deve submeter-se, à primazia do amor, que é paciente e benigno, conforme proclama São Paulo no seu célebre hino ao amor, inserido na sua primeira carta à comunidade cristã da cidade grega de Corinto.
O amor deve ser o sinal distintivo dos cristãos. Jesus ensina-nos que a lei fundamental da perfeição humana e, portanto, da transformação do mundo, é o mandamento novo do amor, conforme está explicitado no Evangelho. O comportamento da pessoa só é plenamente humano quando nasce do amor, manifesta o amor, e é ordenado ao amor.
Esta verdade é igualmente válida no âmbito social. O amor deve estar presente em todas as grandes dimensões da vida social, como a economia, o trabalho, a política e a ecologia, entre outras.
Mais do que nunca, é necessário que os cristãos sejam testemunhas profundamente convictas do amor de Deus pela Humanidade, contribuindo para a construção de um mundo mais livre e mais fraterno.