“Enviaste-nos missionários que nos fizeram conhecer Jesus Cristo, e por isso vos estamos muitos gratos. Mas trouxeste-nos também as vossas distinções: uns prega-nos o metodismo, outros o luteranismo, o congregacionalismo ou o episcopalismo. Pedimos que nos pregueis simplesmente o Evangelho e deixai que seja o próprio Jesus Cristo a suscitar no seio dos nossos povos, pela ação do seu Espírito, a Igreja, conforme às suas exigências, conforme também ao génio da nossa etnia, que será a Igreja de Cristo na China, a Igreja de Cristo na Índia, liberta de todos os «ismos» que atribuis à pregação do Evangelho entre nós”.
Passado mais de um século, as palavras acima mencionadas não podiam ter maior pertinência.
Desde o início, a história do Cristianismo, modelada por seres humanos na busca de fidelidade a Deus, mas sempre também sujeitas a falhas e limitações, apresenta-se marcada por tensões e divisões, muitas delas com caráter duradouro.
O Evangelho de Jesus não é transmitido no mundo contemporâneo por cristãos que professam em comum o essencial da mesma fé, mas por cristãos divididos entre si, separados uns dos outros. Divergências na compreensão da fé, sobretudo conceções diferentes sobre a Igreja e a sua unidade, os sacramentos e os ministérios, continuam a impedir a realização de uma unidade visível.
A divisão dos cristãos contrasta com um dos princípios fundamentais da fé cristã, enunciado no Credo. Com efeito, a fé cristã professa, como elemento essencial da sua identidade, a unidade da Igreja de Jesus Cristo: “Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica”. Com esta formulação do Credo, proclamada pelos Concílios de Niceia (325) e de Constantinopla (381), afirmam as principais Confissões cristãs que a sua fé no Deus Uno e Trino se traduz na realidade da Igreja, comunidade visível de crentes que procuram viver o Evangelho de Jesus ao longo dos tempos.
A realidade de divisão contrasta com a confissão de fé, interpelando os cristãos a uma atitude ecuménica na busca da unidade, tendo como como finalidade um testemunho mais autêntico e da mensagem salvífica e libertadora do Evangelho a favor da Humanidade.
A proclamação do Evangelho junto dos homens e das mulheres do nosso tempo só será eficaz se promovermos os laços de comunhão entre os cristãos das diversas confissões.
Seria, por exemplo, uma contradição querermos estar unidos a Jesus e, ao mesmo tempo, estarmos divididos entre nós, comportando-nos de uma forma individualista, indo cada um por sua conta, julgando-nos ou até excluindo-nos uns aos outros. É preciso, portanto, uma renovada conversão a Deus que nos quer unidos.
Um dos resultados mais frutuosos do ecumenismo ao longo do último século, não obstante as vicissitudes do processo ecuménico e a diversidade de conceções e práticas das diversas Igrejas, foi ter-se alcançado um consenso relevante sobre dois princípios fundamentais: a unidade cristã deve ser uma unidade visível; a unidade a concretizar deve ser uma unidade na diversidade, assente naquilo que é verdadeiramente necessário e suficiente.
Por um lado, existe a consciencialização nas principais Confissões cristãs de que a unidade á concretizar é uma unidade visível, baseada em elementos doutrinais e institucionais comuns,
e não somente uma unidade de cariz espiritual, interior e afetiva. A unidade cristã deve exprimir-se como comunhão da mesma fé, no reconhecimento mútuo dos ministérios e dos sacramentos, na celebração comum da eucaristia e no desenvolvimento do serviço fraterno que emana do Evangelho.
Como segundo aspeto relevante, enfatiza-se que a unidade a construir deve ser uma unidade na diversidade, cuja visibilidade não implicaria uma instituição eclesial única e centralizada, nem numa uniformidade de expressões e linguagem, mas num consenso sobre o conteúdo da fé, dos sacramentos, dos ministérios, do testemunho e do serviço comum. Consequentemente, deve ser uma unidade que salvaguarde e respeite a pluralidade em diversos registos e níveis.
O desenvolvimento e o aprofundamento do ecumenismo exige a prossecução dos seguintes desafios: 1) Consolidar a receção dos resultados do diálogo entre as Igrejas e os organismos ecuménicos, tanto no nível da informação quanto da circulação, como um processo de assimilação vital, urgente e necessária; 2) Organizar a vida das comunidades num verdadeiro espírito e método ecuménicos, na pastoral, na espiritualidade, na catequese, nas instituições e estruturas; 3) Promover o diálogo, a partir do respeito das recíprocas identidades e tradições; 4) buscar com sinceridade a reconciliação, demonstrando sincera abertura para compreender a teologia e a prática das Igrejas irmãs; 5) Investir em estruturas ecuménicas, a nível local, regional e nacional 6) Apostar na formação ecuménica, tanto dos ministros ordenados quanto das comunidades dos fiéis; 7) Clarificar os horizontes do diálogo, estabelecendo metas a serem alcançadas, sobretudo nos horizontes doutrinal, pastoral e espiritual.
O diálogo ecuménico nunca foi fácil, mas devemos ter em conta que o ecumenismo emana radicalmente da esperança cristã, que não se baseia na simples confiança nas capacidades humanas.
O ccumenismo aparece como um dom ligado ao agir salvífico de Deus, que quer construir uma nova Humanidade na verdade, na justiça, no amor e na paz, e como missão a cumprir pelos crentes.