quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A visita de Magos a Jesus: uma abordagem multidisciplinar




No primeiro domingo de cada ano, celebra-se a festividade da Epifania, na qual se recorda a visita dos Magos ao menino Jesus.
A palavra Epifania significa aparição manifestação e vem do grego “epiphanéia.” No sentido religioso, a festividade da Epifania é a festa do reconhecimento da universalidade da salvação. Não há um povo, um grupo, uma pessoa a quem se destina com exclusividade a salvação oferecida por Deus em Jesus de Nazaré.
É importante que os cristãos e todas as pessoas de boa vontade meditem neste mistério. É o mistério de amor e da salvação da Humanidade e de toda a Criação. É Deus que vem ao encontro do ser humano para libertá-lo, para chamá-lo à plenitude da vida e da felicidade.
A visita dos Magos a Jesus é descrita no Evangelho de Mateus. É um texto de caráter essencialmente teológico,  o que não significa que não tenha uma base histórica, como veremos. Olhando para o povo da antiga Aliança, o evangelista quer falar do significado e do lugar do Messias na história da salvação. O Messias prometido pelos profetas do Antigo Testamento, enviado por Deus, realmente veio não somente para cumprir as promessas realizadas na antiga Aliança, mas para salvar a humanidade no seu todo. Jesus é o Messias da humanidade, o enviado por excelência de Deus, para transformar a História humana.
Os Magos não são personagens criados por dois milénios de tradição cristã. A sua existência, além de estar bem testemunhada no Evangelho, pode ser constatada por descobertas históricas.
Os Evangelhos marcam o nascimento de Jesus quando Octávio Cesar Augusto era imperador de Roma, quando Quirino era governador da província romana de Síria, e nos últimos anos do rei Herodes, o monarca vassalo dos romanos que governava a Palestina, que faleceu no mês de março do ano 4 a.C. Para os historiadores, Jesus nasceu uns sete anos antes da nossa era. O evangelista Mateus relaciona o evento com a aparição de uma estrela particularmente luminosa no céu do Médio Oriente.
Esta curiosa e extraordinária aparição está descrita numa tabuinha, na qual foram redigidos caracteres cuneiformes (uma das antigas formas de registos escritos). Trata-se de um autêntico documento astronómico e astrológico (então as duas ciências eram irmãs gêmeas) que revela a existência de uma conjunção de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes no ano 7 antes da nossa era.
Existem muitas hipóteses sobre a estrela que os magos viram e que os levou a enfrentar uma longa viagem com o objetivo de prestar homenagem a um recém nascido.
Em 1603, Johannes Kepler, astrônomo e matemático da corte do imperador Rodolfo II de Habsburgo, descobriu que tinha existido uma conjunção planetária de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes, no ano 7 antes da nossa era, lembrando também que o famoso rabino e escritor Isaac Abravanel (1437-1508) havia falado de um influxo extraordinário atribuído pelos astrólogos hebreus àquele fenômeno.
Faltava uma demonstração clara. Chegou em 1925, quando o erudito alemão Padre Schnabel decifrou anotações neobabilônicas de escritura cuneiforme gravadas numa tábua encontrada entre as ruínas de um antigo templo,, na escola de astrologia de Sippar, antiga cidade localizada na confluência dos rios  Tigre e Eufrates, a uns cem quilômetros ao norte da Babilônia. A tabuinha encontra-se agora no Museu estadual de Berlim.
Entre os vários dados de observação astronómica sobre os dois planetas, Schnabel encontra na tábua um dado surpreendente: a conjunção entre Júpiter e Saturno na constelação de Piscis ocorreu no ano 7 antes da nossa era.. Além disso, segundo os cálculos matemáticos, esta tripla conjunção pôde ser vista com grande claridade na região do Mediterrâneo.
Os magos pertenciam à casta de sacerdotes persas e babilônios que se dedicavam ao estudo da astronomia e da astrologia. Apesar de não serem judeus, provavelmente eram seguidores da religião de Zoroastro e tinham conhecimento das profecias do Antigo Testamento sobre a vinda do Messias, dado que exstiam importantes comunidades judias na Mesopotãmia e na Pérsia.
Na astrologia antiga, Júpiter era considerado como a estrela do Príncipe do mundo e a constelação de Peixes como o sinal do final dos tempos. O planeta Saturno era considerado no Oriente a estrela da Palestina. Quando Júpiter se encontrou com Saturno na constelação de Peixes, significou que o Messias tinha surgido neste ano na Palestina.
Para finalizar, a visita dos Magos a Jesus mostra a universalidade da missão e da mensagem de Jesus, que visa a salvação para todos os seres humanos. Além disso, é uma salvação integral, que diz respeito à pessoa humana na sua plenitude, em todas as suas dimensões: pessoal e social, espiritual e corpórea, histórica e transcendente.

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