domingo, 18 de janeiro de 2015

O direito à vida

O direito à vida é um dos direitos fundamentais da pessoa humana. A promoção e a salvaguarda da vida humana é de algo de especial relevância, considerando que uma vida humana vale por si própria e não por comparação com outras vidas. Mas o respeito pelo direito à vida implica o direito de viver com dignidade.
Para quem acredita no Divino como fundamento do Universo e da Vida, a vida humana deve ser promovida, sustentada e protegida.Mas a vida humana deve ser encarada igualmente como um dom oferecido pelo Divino como fundamento do Amor.
Ora, é sobre o fundamento desse Amor mencionado pelos grandes mestres espirituais que devemos encarar a prática dos princípios. Os princípios que devem orientar a nossa vida têm de ser aplicados perante as realidades em que nos inserimos, pois, se vividos cegamente, em vez de iluminarem a nossa caminhada, podem conduzir-nos à escuridão que nos faz cair no abismo da intolerância, do fundamentalismo e do fanatismo.
O direito de dispor da própria vida era utilizado por inúmeros povos da Antiguidade. Na Grécia antiga, os filósofos já abordavam a questão. Sócrates defendia a prática da eutanásia diante do sofrimento resultante de uma dolorosa doença. Platão na sua obra “República” retrata a eutanásia como uma prática justificável, defendendo a morte dos idosos e dos doentes. os Celtas matavam os seus próprios pais quando estes encontravam com idade muito avançada.
A eutanásia deve ser diferenciada do suicídio, pois este é a destruição da própria vida diretamente pelo sujeito interessado, através de uma ação voluntária, independentemente do seu estado de saúde. Um processo suicida é muito diferente de um processo eutanásico, pois, no suicídio o sujeito age pelas próprias mãos, enquanto que na eutanásia o sujeito não age sozinho, solicitando a outra pessoa que o auxilie para ter uma morte digna, devido ao seu estado de saúde muito débil que o levará inevitavelmente à morte.
No caso da interrupção voluntária da gravidez, a mulher grávida precisa de toda a compreensão e ajuda possíveis, especialmente se existem fatores de risco na sua gravidez ou no caso de gravidez resultar de violação. Quando se comprova a existência de deficiências de gestação do feto, com risco de anormalidades físicas e mentais para a criança que vai nascer, quando a própria vida da mãe é posta em perigo, física ou mentalmente, pela continuidade de uma gravidez, quando se percebe a ocorrência de problemas diversos do foro pessoal para a mãe ou para o seu núcleo familiar pelo nascimento da criança, deve-se refrear a tentação de interpretar literalmente o princípio do direito à vida aplicando-os com a consequente e desresponsabilizante frieza. Sobretudo no caso da gravidez resultar de uma violação, um ato violento e bárbaro, deve ser reconhecido o direito da mulher prosseguir ou não a gravidez.
Existem situações em que os sentimentos e desejos dos progenitores e em especial da mãe devem ser reconhecidos e respeitados, pois, é ela que vai dar à luz e provavelmente é sobre ela que vai recair a maior responsabilidade pelo futuro da criança que vai nascer. Por isso, deve ser combinado a oposição à interrupção voluntária da gravidez por princípio com o reconhecimento de que pode haver circunstâncias nas quais esta opção é eticamente preferível a qualquer outra alternativa. 

sábado, 17 de janeiro de 2015

Nos somos Charlie



Chegou o momento de dizer que cada um de nós é Charlie. Porque gostamos de humor. Porque defendemos a liberdade de expressão Porque sobretudo por querer viver de uma forma digna e feliz.
Após os totalitarismos que mancharam o século XX, com vários milhões de vítimas, os fundamentalismos religiosos e o fundamentalismo islâmico em particular são os grandes inimigos da liberdade e das sociedades democráticas e abertas.
Tive a oportunidade de conhecer verdadeiros muçulmanos na Europa e no Médio Oriente. Aqueles que apreciam a vida na sua diversidade. Aqueles que consideram que a verdadeira jihad é a luta interior de cada ser humano em busca do seu aperfeiçoamento ético e espiritual. Pessoas que estão cheias de vergonha por existirem criminosos que invocam o Corão e o profeta Maomé para legitimar a sua atuação bárbara e covarde.
Neste momento em que choramos a morte bárbara de doze concidadãos europeus, não podemos esquecer os milhares de cristãos, yazids e membros de outros membros de minorias religiosas que foram barbaramente mortos no Médio Oriente no ano findo, bem como os dezenas de milhares que foram expulsos das suas casas e despojados da sua dignidade. 
Hoje, mais do que nunca, temos a responsabilidade de defender as liberdades de expressão e de imprensa como pilares civilizacionais da Humanidade. Temos a responsabilidade de defender a liberdade religiosa e de consciência no seu sentido mais amplo,  isto, a liberdade de acreditar em Deus ou não, de seguir uma determinada religião ou nenhuma, bem como mudar de religião.
O Antigo Testamento diz: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.  No Novo Testamento, está escrito: "Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor." No Corão, está enunciado: “Nenhum de vós é um crente, até quererdes para o vosso vizinho aquilo que quereis para vós.” Nas escrituras budistas, um das principais afirmações de Buda é: “Não magoeis os outros com aquilo que vos magoa a vós. “
Um dia, Othman Jebreal, guardião da Mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém, um dos locais mais sagrados do Islão, disse: “O perigo não está nos livros sagrados. Está na mente daqueles que os interpretam.”
Há um princípio, a regra de ouro presente e preservada há milênios em diversas tradições religiosas e éticas da humanidade: não faças ao outro o que não queres que te façam a ti. Ou, formulada de modo positivo: faz aos outros o que queres que te façam também a ti! Essa deveria ser a norma inamovível e fundamental para todos os campos da vida, para as famílias e as comunidades, para as nações e religiões.
Não se pode transformar a nossa Terra para melhor sem que se mude a consciência da pessoa humana. Atualmente, é o momento de defendei uma mudança individual e coletiva da consciência, em favor de um despertar de nossas forças espirituais e em favor de uma conversão das mentes e dos corações. 
Juntos podemos mover montanhas! Juntos podemos ajudar a construir um mundo cujas criaturas não sejam atormentadas pela guerra, torturadas pela fome e pelo medo, para que os nossos filhos e os filhos de nossos filhos possam ter orgulho da sua condição de seres humanos.