A semana que antecede a Páscoa é considerada a mais importante do ano litúrgico cristão, na medida em que assinala a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus.
Trata-se de uma oportunidade privilegiada
para refletir sobre as novas perspetivas da cristologia, a disciplina da
teologia que aborda a natureza de Jesus, a sua obra e a sua identidade, com
especial enfoque na relação com Deus.
Desde a década de 1960, durante a qual
houve transformações profundas nos diversos ramos do cristianismo, tem existido
uma abundante reflexão cristológica.
Durante a maior parte do percurso do
Cristianismo, tem predominado a Cristologia do Logos, marcada pelas definições
dogmáticas dos Concílios e pelas teologias de influência escolástica e
neo-escolástica.
Influenciada pela interpretação da afirmação do prólogo
do Evangelho de João: “O Logos se fez carne” (Jo. 1,14), a Cristologia do Logos enfatiza a
divindade de Jesus e apresenta-o como o Logos, o Verbo ou o Filho Unigénito e
Eterno de Deus que assume a condição humana. Portanto, trata-se de uma cristologia
do alto, na medida em que parte da divindade de Jesus e tem como foco central a
ideia de Encarnação.
Nas últimas décadas, tem existido uma
valorização da Cristologia do Espírito. Esta corrente do pensamento cristológico
não é inédita no percurso do Cristianismo, tendo tido altos e baixos, mas nas
últimas décadas tem tido um vigor renovado e crescente.
A Cristologia do Espírito valoriza a
humanidade de Jesus, que, pela graça e força do Espirito Santo, torna-se Filho
de Deus no batismo e na ressurreição. Esta cristologia, que pode ser designada como
cristologia de baixo, não se preocupa com a pré-existência e enfatiza a ação do
Espirito de Deus na vida de Jesus como ser humano.
Infelizmente, durante quase toda a
história do Cristianismo, a divindade de Jesus foi exaltada em detrimento da
sua verdadeira humanidade.
Não devemos precipitar-nos e rejeitar
o legado dos concílios. Os cristãos e os crentes das demais religiões podem certamente partilhar a convicção de que Deus estava em Jesus, do mesmo
modo que Deus está presente em cada um de nós. Isto é algo que os cristãos primitivos,
de inspiração judaica e gnóstica, compreenderam. Um legado que o Cristianismo perdeu quando o
judeo-cristianismo e o cristianismo gnóstico foram declarados heréticos.
Talvez não seja por acaso que
descobertas tão relevantes como os manuscritos do Mar Morto e a biblioteca de
Nag Hammadi tiveram lugar a partir dos meados do século XX.
Estamos em condições de promover uma
revolução tranquila no entendimento sobre a pessoa, a identidade e a mensagem
de Jesus.
Um entendimento mais pluralista, inclusivo
e ecuménico, que enquadre a vida e a mensagem singulares de Jesus no contexto
mais amplo das tradições religiosas e espirituais da Humanidade.
Uma nova visão da fé em Jesus que possa unir, ao invés de dividir, cristãos e outros homens e mulheres de boa vontade. Uma visão que permita abrir as portas frutíferas do diálogo e da compreensão entre as grandes correntes religiosas e espirituais do mundo contemporâneo.
Uma nova visão da fé em Jesus que possa unir, ao invés de dividir, cristãos e outros homens e mulheres de boa vontade. Uma visão que permita abrir as portas frutíferas do diálogo e da compreensão entre as grandes correntes religiosas e espirituais do mundo contemporâneo.
Atualmente,
num mundo cada vez mais globalizado, no qual aumentam as relações entre os
povos, o diálogo inter-religioso assume uma relevância cada vez mais premente,
contribuindo para o progresso ético e espiritual da Humanidade.
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