“Estaremos sós no Universo?”. Esta é uma das
grandes questões existenciais da Humanidade, que tem sido colocada desde tempos
imemoriais, mas com particular acuidade desde o início da exploração do espaço,
a partir dos meados do século XX.
Com efeito, o nosso lar comum, a Terra, é um
pequeno planeta de um sistema solar situado na periferia da Via Láctea, uma das
170 biliões das galáxias existentes no universo observável.
A questão acima mencionada tem implicações de
diversa ordem, cientifica, filosófica e religiosa.
A
descoberta de vida extraterrestre será provavelmente o maior acontecimento da
História da Humanidade, o que não deixaria de ter repercussões na sua vivência
espiritual. Contudo, as principais religiões existentes
não fecham as portas à existência de vida extraterrestre.
O budismo tem sutras ou textos que estendem
o ensinamento do Buda "a todos osmundos". No sutra da Contemplação da
vida infinita, Buda faz jorrar da sua fronte um raio de luz "que iluminou
todos os mundos e voltou a colocar-se na cabeça do Buda, formando uma torre de
luz. Nesta torre, podia ver-se todas as terras dos budas".
O islão vai mais longe. O Alcorão não só admite a
existência de vida extraterrestre, mas também refere que haverá um encontro:
"Entre as Suas Provas está a criação dos céus e da terra e dos seres vivos
que aí disseminou. Tem aliás o poder de reuni-los quando lhe aprouver"
(sura 42). "Alá que criou sete céus e outras tantas terras" (sura
65).
No judaísmo, as narrativas da literatura de
Midrash (compilação de ensinamentos sobre a Bíblia judaica) demonstram que, se
eventuais descobertas científicas revelassem a presença de outros seres vivos
no universo, os princípios da Tora e os valores do judaísmo não seriam
abalados.
O caso do cristianismo é semelhante. Em 2008, o diretor do Observatório do Vaticano, o jesuíta José
Gabriel Funes, indicou numa entrevista concedida ao L’Osservatore Romano que ela não confronta o
cristianismo: “Não podemos colocar limites à liberdade criativa de Deus. Se,
como disse São Francisco, consideramos todas as criaturas da Terra como irmãos
e irmãs, por que não poderíamos falar do nosso irmão extraterrestre? Continua a
fazer parte da Criação.” O
falecido monsenhor Corrado Balducci, colaborador e amigo próximo do papa João
Paulo II, declarou que “é real a possibilidade de que outras criaturas
inteligentes vivam na imensidão do espaço”. Para ele, isto seria um sinal
inequívoco da gloria de Deus.
Esta opinião é partilhada por
Robin Collins, professor de filosofia no Messiah
College, no estado norte-americano de Pensilvânia, que afirma o seguinte: “Embora não tenha a
certeza absoluta, os seres humanos não podem estar sós. Deus é infinitamente
criativo”.
Não se trata de uma posição nova.
Em 1277, o bispo de Paris, Étienne Tempier, considerava que a afirmação de que
Deus só podia fazer um mundo significava limitar o poder divino. Por outro
lado, o cardeal Nicolau de Cusa argumentava, na obra De Docta Ignorantia (1440),
que poderíamos encontrar em cada região celestial habitantes que, embora de
natureza diferente da nossa, deviam a existência ao poder criador de Deus.
Contudo, existem outros pensadores
cristãos, como Hipólito de Roma e Agostinho de Hipona, desconfiados da
observação metódica como fonte de conhecimento presos a uma interpretação
literal das Escrituras, que negavam a pluralidade de mundos e a existência de
outros seres dotados de inteligência e consciência.
Em todo o caso, a busca da vida
extraterrestre poderá levar-nos a um entendimento mais profundo de Deus. Um
Deus como a Fonte da Vida que é exaltada quando vivemos plenamente. Um Deus como a Fonte do Amor que é exaltada quando
amamos imensamente. Um Deus como a Base da Existência que é exaltada quando
temos a coragem de existir de modo fraterno
com todo o Universo.
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