segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Deus e os extraterrestres



“Estaremos sós no Universo?”. Esta é uma das grandes questões existenciais da Humanidade, que tem sido colocada desde tempos imemoriais, mas com particular acuidade desde o início da exploração do espaço, a partir dos meados do século XX.
Com efeito, o nosso lar comum, a Terra, é um pequeno planeta de um sistema solar situado na periferia da Via Láctea, uma das 170 biliões das galáxias existentes no universo observável.
A questão acima mencionada tem implicações de diversa ordem, cientifica, filosófica e religiosa.
A descoberta de vida extraterrestre será provavelmente o maior acontecimento da História da Humanidade, o que não deixaria de ter repercussões na sua vivência espiritual.  Contudo, as principais religiões existentes não fecham as portas à existência de vida extraterrestre.
O budismo tem sutras ou textos que estendem o ensinamento do Buda "a todos osmundos". No sutra da Contemplação da vida infinita, Buda faz jorrar da sua fronte um raio de luz "que iluminou todos os mundos e voltou a colocar-se na cabeça do Buda, formando uma torre de luz. Nesta torre, podia ver-se todas as terras dos budas".
O islão vai mais longe. O Alcorão não só admite a existência de vida extraterrestre, mas também refere que haverá um encontro: "Entre as Suas Provas está a criação dos céus e da terra e dos seres vivos que aí disseminou. Tem aliás o poder de reuni-los quando lhe aprouver" (sura 42). "Alá que criou sete céus e outras tantas terras" (sura 65).
No judaísmo, as narrativas da literatura de Midrash (compilação de ensinamentos sobre a Bíblia judaica) demonstram que, se eventuais descobertas científicas revelassem a presença de outros seres vivos no universo, os princípios da Tora e os valores do judaísmo não seriam abalados.
O caso do cristianismo é semelhante. Em 2008, o diretor do Observatório do Vaticano, o jesuíta José Gabriel Funes, indicou numa entrevista concedida ao L’Osservatore Romano que ela não confronta o cristianismo: “Não podemos colocar limites à liberdade criativa de Deus. Se, como disse São Francisco, consideramos todas as criaturas da Terra como irmãos e irmãs, por que não poderíamos falar do nosso irmão extraterrestre? Continua a fazer parte da Criação.” O falecido monsenhor Corrado Balducci, colaborador e amigo próximo do papa João Paulo II, declarou que “é real a possibilidade de que outras criaturas inteligentes vivam na imensidão do espaço”. Para ele, isto seria um sinal inequívoco da gloria de Deus.   
Esta opinião é partilhada por Robin Collins, professor de filosofia no Messiah College, no estado norte-americano de  Pensilvânia, que afirma o seguinte: “Embora não tenha a certeza absoluta, os seres humanos não podem estar sós. Deus é infinitamente criativo”.
Não se trata de uma posição nova. Em 1277, o bispo de Paris, Étienne Tempier, considerava que a afirmação de que Deus só podia fazer um mundo significava limitar o poder divino. Por outro lado, o cardeal Nicolau de Cusa argumentava, na obra De Docta Ignorantia (1440), que poderíamos encontrar em cada região celestial habitantes que, embora de natureza diferente da nossa, deviam a existência ao poder criador de Deus.
Contudo, existem outros pensadores cristãos, como Hipólito de Roma e Agostinho de Hipona, desconfiados da observação metódica como fonte de conhecimento presos a uma interpretação literal das Escrituras, que negavam a pluralidade de mundos e a existência de outros seres dotados de inteligência e consciência.
Em todo o caso, a busca da vida extraterrestre poderá levar-nos a um entendimento mais profundo de Deus. Um Deus como a Fonte da Vida que é exaltada quando vivemos plenamente. Um Deus como a Fonte do Amor que é exaltada quando amamos imensamente. Um Deus como a Base da Existência que é exaltada quando temos a coragem de existir de modo fraterno com todo o Universo.

Sem comentários:

Enviar um comentário