quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Jesus, o profeta reformador: a visão judaica de Géza Vermes


Um dos maiores especialistas contemporâneos sobre a História de Jesus e do Cristianismo primitivo foi, indiscutivelmente, Géza Vermes, que faleceu no dia 8 de maio do presente ano.
Nasceu em Makó, na Hungria, em 1924, filho de pais judeus, que se converteram ao Cristianismo quando Vermes tinha sete anos, que foi igualmente batizado. Durante a Segunda Guerra Mundial, os seus pais foram vítimas do Holocausto nazi.
Entretanto, Géza Vermes entra no seminário. Quando alcança os 18 anos, em 1942, os judeus não eram aceites nas universidades na Hungria, cujo regime autoritário então vigente era aliado da Alemanha nazi.
Após o final da guerra, é ordenado padre da Igreja Católica e prossegue os seus estudos bíblicos, inicialmente em Budapeste e posteriormente na Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, onde apresentou a tese de doutoramento sobre os manuscritos do Mar Morto, que constitui ainda hoje uma obra de referência nesta matéria.
Em 1957, abandona o sacerdócio e a Igreja Católica, regressando ao Judaísmo. Contudo, a figura de Jesus continuou a desempenhar um lugar fundamental na sua atividade académica e na sua vivência em geral.
Passou a viver na Grã Bretanha, onde se tornou professor da Universidade de Newcastle upon Tyne, tendo posteriormente integrado a Universidade de Oxford. Em 1970, tornou-se membro da Sinagoga Judaica Liberal de Londres, mas insistiu que não se tinha convertido, mas que cresceu a partir do Cristianismo.
Vermes descreve Jesus como um homem santo judeu do século I da nossa era, que não chegou verdadeiramente a abandonar as estruturas mentais e religiosas do judaísmo do seu tempo. A sua finalidade não era romper com Israel, criando uma nova religião. Jesus foi essencialmente um reformador carismático. Não fez do seu messianismo uma bandeira política nem passou para a resistência armada aos poderes instituídos. Era um “homem de Deus”, um pouco heterodoxo, mas inserido no judaísmo popular da sua época.
Segundo Vermes, o cristianismo posterior a Jesus é uma religião respeitável, mas não acrescente nada de essencial ao judaísmo mais autêntico que ele preconizou e vivenciou.
Vermes acredita que era possível recuperar o evangelho autêntico de Jesus, isto é, a mensagem original transmitida aos seus seguidores.
A este respeito, é importante analisar um texto de Géza Vermes, exposto no livro “Quem é Quem no Tempo de Jesus”: 
“Por fim, o Deus de Jesus é um pai amoroso. Ele faz o Sol nascer e a chuva cair para o bem de todos; proporciona aos seus filhos o pão de cada dia. Protege os mais pequenos da tentação e liberta-os do mal. Perdoa-os a todos, até mesmo aos publicanos e às prostitutas, e dá-lhes a boas vindas no seu Reino. Em suma, a aspereza e a severidade são estranhas a esta representação de Deus de Jesus. Isto implicaria que ele se sentia otimista no que respeita ao êxito final da sua missão. Ele esperava dos filhos de Deus que estes encontrassem a sua própria salvação no Reino do seu Pai celestial.
A religião que Jesus ensinava era positiva e esperançosa.(…) Em oposição a esta religião teocêntrica, escatológica e existencial, pregada e praticada por Jesus, está o Cristianismo cristocêntrico, que dá ênfase às proezas sobrenaturais de um Deus encarnado. O Cristianismo não insiste, primariamente, que os homens se esforcem por obedecer aos ensinamentos e seguir o exemplo de Jesus. Caracteriza-se antes pela crença no poder redentor do sofrimento, da morte e da ressurreição de Jesus, qual ser humano deificado. Esta é uma nova religião, construída não sobre o evangelho simples e prático do profeta de Nazaré, mas sobre a visão mística do autor do Quarto Evangelho e de S. Paulo, a qual tem vindo a ser desenvolvida, ao longo dos dias de hoje, pelas várias Igrejas, até à consecução de um Cristianismo sazonado”.

Sem comentários:

Enviar um comentário