Um dos maiores especialistas contemporâneos
sobre a História de Jesus e do Cristianismo primitivo foi, indiscutivelmente,
Géza Vermes, que faleceu no dia 8 de maio do presente ano.
Nasceu em Makó, na Hungria, em 1924, filho
de pais judeus, que se converteram ao Cristianismo quando Vermes tinha sete
anos, que foi igualmente batizado. Durante a Segunda Guerra Mundial, os seus
pais foram vítimas do Holocausto nazi.
Entretanto, Géza Vermes entra no
seminário. Quando alcança os 18 anos, em 1942, os judeus não eram aceites nas
universidades na Hungria, cujo regime autoritário então vigente era aliado da
Alemanha nazi.
Após o final da guerra, é ordenado
padre da Igreja Católica e prossegue os seus estudos bíblicos, inicialmente em
Budapeste e posteriormente na Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica,
onde apresentou a tese de doutoramento sobre os manuscritos do Mar Morto, que
constitui ainda hoje uma obra de referência nesta matéria.
Em 1957, abandona o sacerdócio e a Igreja
Católica, regressando ao Judaísmo. Contudo, a figura de Jesus continuou a desempenhar
um lugar fundamental na sua atividade académica e na sua vivência em geral.
Passou a viver na Grã Bretanha, onde
se tornou professor da Universidade de Newcastle upon Tyne, tendo
posteriormente integrado a Universidade de Oxford. Em 1970, tornou-se membro da
Sinagoga Judaica Liberal de Londres, mas insistiu que não se tinha convertido,
mas que cresceu a partir do Cristianismo.
Vermes descreve Jesus como um homem
santo judeu do século I da nossa era, que não chegou verdadeiramente a
abandonar as estruturas mentais e religiosas do judaísmo do seu tempo. A sua
finalidade não era romper com Israel, criando uma nova religião. Jesus foi
essencialmente um reformador carismático. Não fez do seu messianismo uma
bandeira política nem passou para a resistência armada aos poderes instituídos.
Era um “homem de Deus”, um pouco heterodoxo, mas inserido no judaísmo popular
da sua época.
Segundo Vermes, o cristianismo
posterior a Jesus é uma religião respeitável, mas não acrescente nada de
essencial ao judaísmo mais autêntico que ele preconizou e vivenciou.
Vermes acredita que era possível recuperar
o evangelho autêntico de Jesus, isto é, a mensagem original transmitida aos
seus seguidores.
A este respeito, é importante analisar
um texto de Géza Vermes, exposto no livro “Quem é Quem no Tempo de Jesus”:
“Por
fim, o Deus de Jesus é um pai amoroso. Ele faz o Sol nascer e a chuva cair para
o bem de todos; proporciona aos seus filhos o pão de cada dia. Protege os mais
pequenos da tentação e liberta-os do mal. Perdoa-os a todos, até mesmo aos
publicanos e às prostitutas, e dá-lhes a boas vindas no seu Reino. Em suma, a
aspereza e a severidade são estranhas a esta representação de Deus de Jesus.
Isto implicaria que ele se sentia otimista no que respeita ao êxito final da
sua missão. Ele esperava dos filhos de Deus que estes encontrassem a sua
própria salvação no Reino do seu Pai celestial.
A religião que Jesus ensinava era
positiva e esperançosa.(…) Em oposição a esta religião teocêntrica, escatológica
e existencial, pregada e praticada por Jesus, está o Cristianismo
cristocêntrico, que dá ênfase às proezas sobrenaturais de um Deus encarnado. O
Cristianismo não insiste, primariamente, que os homens se esforcem por obedecer
aos ensinamentos e seguir o exemplo de Jesus. Caracteriza-se antes pela crença
no poder redentor do sofrimento, da morte e da ressurreição de Jesus, qual ser
humano deificado. Esta é uma nova religião, construída não sobre o evangelho
simples e prático do profeta de Nazaré, mas sobre a visão mística do autor do
Quarto Evangelho e de S. Paulo, a qual tem vindo a ser desenvolvida, ao longo
dos dias de hoje, pelas várias Igrejas, até à consecução de um Cristianismo
sazonado”.
Sem comentários:
Enviar um comentário