quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O ecumenismo: novos desafios


No dia 25 de janeiro do presente ano, foi formalizada, em Lisboa, a declaração de reconhecimento mútuo do batismo entre a Igreja Católica Romana, a Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica, a Igreja Evangélica Metodista Portuguesa, a Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal e Igreja Ortodoxa do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla.
Trata-se de um passo significativo, mas que implica novos passos, mais firmes e sólidos.
De facto, desde que o Batismo seja realizado dentro das condições normais e básicas do seguimento de Jesus, à luz da tradição do Evangelho, o reconhecimento não deveria ser alvo de qualquer problema ou discussão. Há aqui algo mais de simbólico do que de grande acontecimento.
A unidade é um dom ligado ao agir salvífico de Deus, que quer construir uma Humanidade nova baseada no amor, na paz e na justiça.
Segundo as Escrituras, os crentes são chamados a promover a unidade do Espirito de Deus. Na carta de aulo à comunidade cristã de Éfeso, este apelo à unidade é expresso da seguinte forma: “Há um só Corpo e um só Espírito, assim como a vossa vocação vos chamou a uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos”. Na carta à comunidade cristã de Corinto, Paulo escreve: “Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. Há também diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum”.
Desde o início, a história do Cristianismo, modelada por pessoas em busca de fidelidade a Deus, mas sempre também sujeitas a falhas e erros, apresenta-se marcada por tensões e divisões, muitas delas dolorosas e que desfiguraram o seu rosto.
Com efeito, o Evangelho de Jesus não nos é transmitido no mundo de hoje por cristãos que professam em comum o essencial da mesma fé, mas por cristãos divididos entre si, separados e afastados uns dos outros.
Diferenças na compreensão da fé, sobretudo conceções diversas acerca da Igreja e da sua unidade, dos sacramentos e dos ministérios, continuam a impedir a realização de uma unidade visível, prejudicando o testemunho credível da mensagem de libertação e de amor contida no Evangelho a favor da Humanidade.
Portanto, cada cristão, cada um a seu modo e dentro do seu âmbito de responsabilidade, deve contribuir para a unidade da Igreja de Jesus Cristo na história
Unidade não significa uniformidade. O ecumenismo deve valorizar a unidade na diversidade, tendo em conta a realidade e as aspirações da Humanidade do século XXI.
As Igrejas cristãs devem promover o reconhecimento mútuo dos sacramentos e dos ministérios. A promoção de uma visão eclesiológica plural é um contributo fundamental para desbloquear tensões, superar mal entendidos, abrir os horizontes e ajudar a perceber melhor a riqueza de um horizonte comum futuro.
Deve-se promover a elaboração de uma nova Profissão de Fé comum a todas as Igrejas cristãs, adaptada ao tempo e que tome como ponto de referência a mensagem cristã original. Não raras vezes, a linguagem utlizada pelas Igrejas é aborrecida, obsoleta, anacrónica, repetitiva e desadaptada à nossa época. Não se trata em absoluto de acomodar-se nem de fazer demagogia, pois a mensagem do Evangelho deve ser apresentada em toda a sua exigência ética. Uma nova evangelização não consiste em repetir a antiga, que já não diz mais nada, mas em inovar, criar uma nova linguagem que expresse a fé de modo apropriado e que tenha significado para a Humanidade de hoje.
Deve-se promover uma renovação em profundidade da teologia e da catequese, que apele mais à dimensão mística e profética e que tenha em conta a totalidade do Homem como ser físico, psíquico e espiritual.
Por fim, sugere-se a convocação de um concílio ou assembleia geral ao nível da Igreja universal, do qual deverão estar representados todos os cristãos, para examinar com toda a franqueza e clareza os assuntos assinalados anteriormente e os que forem propostos. Para este concílio, deverão ser convidadas, na qualidade de observadores, as religiões não cristãs da Terra, tendo em conta o grande ensinamento de que Deus ama toda a Humanidade, sem exceção.
Uma espécie de 2.º Concílio de Jerusalém II, em memória do Concílio de Jerusalém, realizado em 48 EC, sob a liderança de Tiago, irmão de Jesus, que abordou o relacionamento do Cristianismo primitivo com o Judaísmo e o mundo gentio de então.   
A convicção ecuménica brota radicalmente da esperança cristã, não se baseia na simples confiança nas nossas forças, mas sim na fé esclarecida e lúcida no Espirito de Deus que nos interpela, todos os dias, a cultivar um amor profundo por todos os seres que fazem parte do nosso Universo.
 

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