Nas sociedades regidas pelo paradigma da
modernidade, a racionalidade, a ciência, o individualismo e o materialismo
promoveram o desencantamento do mundo, mas não esvaziam a necessidade genuinamente humana de
encontrar um sentido para o Universo e para a existência.
Após o “desencantamento” do mundo", característico
da modernidade, que foi analisado por Max Weber e outros pensadores das
ciências sociais e humanas, constata-se atualmente um processo de "reencantamento
do mundo", conforme assinala o sociólogo e teólogo austro-americano Peter
Berger e o sociólogo francês Marcel Gauchet, marcado pela relação entre
racionalidade e aspiração à espiritualidade.
O filósofo francês Martin Legros apresenta quatro cenários sobre a evolução da religião e a
espiritualidade no nosso século XXI.
O primeiro cenário é o do retorno das religiões
tradicionais renovadas. Existem razões para o sucesso das religiões ditas tradicionais.
Face ao desenraizamento das sociedades contemporâneas, descobre-se que é
essencial o laço comunitário e social das religiões. Com a oferta de um quadro
de narrativas, símbolos e ritos, elas estruturam a relação do ser humano com o
transcendente.
O segundo cenário é o da aceleração do processo
de secularização, através da convergência das nanotecnologias, das
biotecnologias, das ciências cognitivas e das tecnologias de informação. A
ciência e a técnica poderão substituir a religião na resposta aos enigmas da
Humanidade.
O terceiro cenário é o que se pode chamar "a
era das espiritualidades". Não se acredita no Deus pessoal dos
monoteísmos, mas também se não aceita que o Universo a Vida e a Humanidade se
reduzam a partículas atómicas, células e neurónios. Talvez não se aceite a vida
após a morte, mas também se recusa a afirmação ateísta segundo a qual "não
há nada". O sentimento de fusão na Natureza como um todo animado, a
abertura ao infinito e ao absoluto, uma espiritualidade pós-teísta poderá ser a
grande tendência do século XXI, que verá cada vez mais os crentes afastarem-se
das religiões institucionalizadas e os não crentes espiritualizarem-se.
O quarto cenário é o do confronto entre os fanatismos
religiosos, agravado pela dinâmica do capitalismo global, segundo o pensador
alemão H. M. Enzensberger. Na sua perspetiva, com o atual modelo de
globalização o número de populações perdedoras aumenta constantemente, o que
pode levar ao agravamento dos conflitos, nos quais a religião pode ser utlizada
como instrumento de poder e de dominação. O antropólogo francês René Girard é
ainda mais pessimista: "A 'guerra justa' de George W. Bush reativou a de
Maomé, mais poderosa porque essencialmente religiosa. Duas guerras mundiais, a
invenção da bomba atómica, vários genocídios, uma catástrofe ecológica iminente
não terão bastado para convencer a Humanidade, e os cristãos em primeiro lugar,
de que os textos apocalípticos, mesmo se não tinham qualquer valor de predição,
diziam respeito ao desastre em curso".
Os dados estão ai, quando se analisa a geografia do fenómeno religioso. Há o progresso fulgurante do Islão, com 1.300 milhões de crentes, em Africa, no Médio Oriente e na Ásia, e do neo-protestantismo cristão, sobretudo do evangelismo pentecostal, com milhões de adesões na África, na Ásia e nas Américas.
Os dados estão ai, quando se analisa a geografia do fenómeno religioso. Há o progresso fulgurante do Islão, com 1.300 milhões de crentes, em Africa, no Médio Oriente e na Ásia, e do neo-protestantismo cristão, sobretudo do evangelismo pentecostal, com milhões de adesões na África, na Ásia e nas Américas.
Pessoalmente,
tenho esperanças de que o diálogo inter-religioso e inter-espiritual,
envolvendo as pessoas das diversas confissões religiosas, bem como os
agnósticos e os ateus, possa contribuir para o desenvolvimento de uma
civilização universal baseada no amor e na compaixão.
Conforme
está enunciado na Carta pela Compaixão, elaborada com a participação global de pessoas de diversas nacionalidades, origens e convicções:"É
urgente que façamos da compaixão uma força clara, luminosa e dinâmica no nosso
mundo polarizado. Com raízes numa determinação de princípios de transcender o
egoísmo, a compaixão pode quebrar barreiras políticas, dogmáticas, ideológicas
e religiosas. Nascida da nossa profunda interdependência, a compaixão é
essencial para os relacionamentos humanos e para uma humanidade realizada. É o
caminho para a iluminação e é indispensável para a criação de uma economia
justa e de uma comunidade global pacífica.”
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