sexta-feira, 25 de abril de 2014

Abril. 40 anos depois


Em 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas derrubou o regime autoritário do Estado Novo e abriu caminho para a instauração da III República.
Poucos tinham imaginado que uma ditadura de quarenta e oito anos, que tinha feito da censura e da polícia política os seus pilares estruturantes, pudesse terminar sem violência. Mas foi o que aconteceu. Mal sabendo do golpe militar, a “rua,” tão temida pelo Estado Novo, acorrera em massa, vitoriando os miliares que tinham promovido a ação libertadora. O que inicialmente parecia um mero golpe de Estado transformou-se numa ampla revolução democrática e popular, que se estendeu a todos os pontos do País, bem como às mais remotas parcelas do então império colonial.
Durante dois anos, os portugueses viveram um dos períodos revolucionários mais intensos da História mundial do século XX. Contrariamente ao que aconteceu noutros países, o processo revolucionário conduziu à implantação de uma democracia pluralista de inspiração europeia e ocidental, impregnada de um forte carácter progressista nos domínios político, económico e social. 
Nas últimas quatro décadas, o País modificou-se radicalmente. Foi promovida a descolonização dos territórios ultramarinos. Realizou-se a adesão às Comunidades Europeias, atual União Europeia. A agricultura de subsistência entrou em declínio fatal. A indústria e sobretudo os serviços cresceram. Proclamou-se a plena igualdade de direitos entre os dois sexos. As áreas urbanas, nomeadamente as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, passaram a concentrar a maioria da população. A mobilidade social aumentou. Filhos de operários obtêm licenciaturas, descendentes de agricultores a trabalhar como empresários ou gestores, etc. A mortalidade infantil, um dos principais indicadores da saúde pública, é uma das mais baixas do mundo. A democracia política foi-se consolidando, com a realização de eleições livres e a salvaguarda das liberdades fundamentais. Depois de uma tutela centralista de meio século, o poder local desvendou progressivamente rumos de autonomia, o que contribuiu para a melhoria profunda das condições de vida das comunidades locais, nos domínios económico, social, cultural e ambiental.
Feito de algum modo o balanço dos últimos quarenta anos da história nacional, impõe-se perspetivar os rumos futuros da democracia portuguesa.
A consolidação e o aprofundamento da democracia exige que as suas formas institucionais, nas vertentes representativa e participativa, estejam em consonância com o percurso das transformação estruturais da sociedade.
A definição e a implementação das reformas necessárias ao aprofundamento da democracia exigem dos decisores políticos e dos cidadãos em geral ousadia, coragem e inovação.
A democracia não é algo estático, mas um processo em constante desenvolvimento. Todos os cidadãos, independentemente das suas preferências políticas, devem contribuir para o aprofundamento e o desenvolvimento da democracia, pois não há democracia sem uma cidadania ativa, interveniente, esclarecida e participativa. É talvez esta a grande lição da revolução generosa e pacífica que hoje celebramos.

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