quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Je suis parisien

Na passada sexta-feita, dia 13 de novembro, a barbárie irrompeu novamente no centro da Europa. As trevas ensombraram Paris, a cidade luz.
Após os totalitarismos que mancharam o século XX, com vários milhões de vítimas, os fundamentalismos religiosos e o fundamentalismo islâmico em particular são os grandes inimigos da liberdade e das sociedades democráticas e abertas.
Tive a oportunidade de conhecer verdadeiros muçulmanos na Europa e no Médio Oriente. Aqueles que apreciam a vida na sua diversidade. Aqueles que consideram que a verdadeira jihad é a luta interior de cada ser humano em busca do seu aperfeiçoamento ético e espiritual. Pessoas que estão cheias de vergonha por existirem criminosos que invocam o Corão e o profeta Maomé para legitimar a sua atuação bárbara e covarde.
Neste momento em que choramos a morte bárbara de cerca de duas centenas de concidadãos europeus e as centenas de feridos, muitos dos quais em estado muito grave, não devemos esquecer os cristãos, yazids e outros membros de minorias religiosas que têm sido barbaramente mortos no Médio Oriente no ano findo, bem como os dezenas de milhares que foram expulsos das suas casas e despojados da sua dignidade.
Não devemos esquecer os muçulmanos que têm sido perseguidos e mortos, porque não concordam com uma visão distorcida e retrógrada do Islão.
Não devemos esquecer o património cultural material e imaterial da Humanidade que tem sido sistematicamente destruído. Um património que constitui um legado de milhares de anos da nossa espécie, com as suas grandezas e as suas misérias, que as gerações atuais e futuras não conhecerão. Uma Humanidade sem consciência da sua memória está mais debilitada para compreender o presente e projetar o futuro.
Hoje, mais do que nunca, temos a responsabilidade de defender a liberdade e a dignidade do ser humano como pilares civilizacionais da Humanidade. Temos a responsabilidade de defender a liberdade religiosa e de consciência no seu sentido mais amplo, isto, a liberdade de acreditar em Deus ou não, de seguir uma determinada religião ou nenhuma, bem como mudar de religião.
O Antigo Testamento diz: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. No Novo Testamento, está escrito: "Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor”. No Corão, está enunciado: “Nenhum de vós é um crente, até quererdes para o vosso vizinho aquilo que quereis para vós”; “Se alguém matar uma pessoa seria como se ele matasse toda a humanidade, e se alguém salvar uma vida, seria como se ele salvasse a vida de toda a humanidade”. Nas escrituras budistas, um das principais afirmações de Buda é: “Não magoeis os outros com aquilo que vos magoa a vós”.
Um dia, Othman Jebreal, guardião da Mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém, um dos locais mais sagrados do Islão, disse: “O perigo não está nos livros sagrados. Está na mente daqueles que os interpretam”.
Há um princípio, a regra de ouro presente e preservada há milênios em diversas tradições religiosas e éticas da humanidade: não faças ao outro o que não queres que te façam a ti. Ou, formulada de modo positivo: faz aos outros o que queres que te façam também a ti! Essa deveria ser a norma inamovível e fundamental para todos os campos da vida, para as famílias e as comunidades, para as nações e religiões.
Não se pode transformar a nossa Terra para melhor sem que se mude a consciência da pessoa humana. Atualmente, é o momento de defender uma mudança individual e coletiva da consciência, em favor de um despertar de nossas forças espirituais e em favor de uma conversão das mentes e dos corações.

Juntos podemos mover montanhas! Juntos podemos ajudar a construir um mundo cujas criaturas não sejam atormentadas pela guerra, torturadas pela fome e pelo medo, para que os nossos filhos e os filhos de nossos filhos possam ter orgulho da sua condição de seres humanos.

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