A divinização da
Humanidade é um tema que está presente na generalidade das correntes esotéricas,
desde as mais antigas, nomeadamente as religiões mistéricas e as filosofias
clássicas, às da modernidade, designadamente as diversas ordens iniciáticas.
Apesar de
menosprezada no Cristianismo ocidental, tanto no Catolicismo como nos diversos
ramos do Protestantismo, a doutrina da divinização da Humanidade desempenha
igualmente um lugar fundamental no Cristianismo oriental.
Com efeito, o
Cristianismo oriental sempre enfatizou a grandeza da pessoa humana como
condição do seu progresso em direção ao seu destino divino.
A doutrina da
divinização da Humanidade baseia-se nos textos das Escrituras
bíblicas que constituem o fundamento basilar do Cristianismo.
No primeiro livro
do Antigo Testamento, o Genésis, está escrito: “E disse Deus: Façamos o Homem à nossa
imagem, à nossa semelhança".
Seguindo esta
passagem bíblica, os cristãos primitivos, sobretudo os gnósticos, tiraram daí
todas as consequências. Existe na Humanidade, apesar da Queda, uma parcela
espiritual que provém do mundo superior e que aspira a ser purificada a fim de
regressar à sua fonte primordial, que é Deus. .
Na perspetiva dos
cristãos gnósticos, a finalidade da salvação era a participação da pessoa
humana na natureza divina. .
Seguindo esta
perspetiva, é responsabilidade do Homem readquirir essa dignidade espiritual,
que ele possuía na Origem e que perdeu com a Queda.
Segundo o
gnosticismo cristão, diversos mediadores ou mensageiros desceram à Terra para
transmitir a Gnose à Humanidade, de modo a assegurar a sua regeneração
espirutual. O principal mediador é Jesus, o Cristo, que transmitiu a Gnose aos
seus discípulos..
Para as correntes
que valorizam a dimensão esotérica do Cristianismo, tanto aa antigas como as
contemporâneas, a divinização da Humanidade é uma condição fundamental para a
manifestação do Reino de Deus.
Com efeito, há
diversas coisas a dizer sobre o caminho que Jesus proclamou e praticou, uma vez
que os seus ensinamentos nem sempre tem sido interpretados à luz de uma
consciência espiritual mais elevada.
Entrar no Reino de
Deus não significa esperar pela morte e depois juntar-se a Deus. Pelo
contrário, é um acontecimento interno vivido no momento que a natureza humana
se transforma em algo mais elevado.
A mensagem de
Jesus, centrada na proclamação do Reino de Deus, refere-se a um mundo
transformado que depende de cada ser humano que busca a sua transformação
interior, de acordo com a sua condição de filho de Deus.
Conforme Jesus
refere no Evangelho de Tomé:“O Reino dentro de vós e fora de vós. Quando vos
chegueis a conhecer a vós próprios, então sereis conhecidos e sabereis que vós
sois os filhos do Pai vivente. Mas se vós não vos conhecerdes, então ficareis
na pobreza e sereis a pobreza”.
Em todas as grandes tradições de sabedoria humana,
do Ocidente e do Oriente, a realidade é dividida em três niveis: o material, o
espiritual e o divino.
O mundo material e o domínio das coisas físicas. Este
nível de realidade é dominado pelas limitações do espaço e do tempo e pelo
desejo dos bens materiais, o que nos coloca-nos ao serviço de ídolos ou falsas
divindades, que Jesus simbolizou na figura de Mamona.
O mundo espiritual,
onde tudo o que se aplica ao mundo material não é válido. Aí, os acontecimentos
são governados por leis espirituais e as limitações do espaço e do tempo não
existem. Nos Evangelhos, Jesus utliiliza a imagem do banquete para descrever
esse mundo de felicidade, de amor e de alegria sem fim que Deus quer oferecer a
todos os seus filhos.
Por último, Deus, ou o Absoluto, a origem, da qual nasceu a realidade.
Transcende o mundo material, mas por ser infinito e ilimitado, também
transcende o mundo espiritual.
Estes três níveis
interpenetram-se. O mundo material, o mundo espiritual e o próprio Deus estão
todos presentes dentro de nos e fora de nos.
Acreditar que só
existimos no mundo material é urn enorme erro, um erro que os
vários mestres espirituais e o próprio Jesus tem corrigido. Ele ofereceu a
salvação, o que abre as portas as duas dimensões da vida que estão em falta, o
mundo espiritual e o Absoluto Divino.
A menagem de
salvação apresentada por Jesus tem uma vantagem pratica para a nossa vida. Como
não somos perfeitos, mas somos portadores de uma centelha espiritual, a vida
transforma-se num misto de bem e mal, prazer e sofrimento. Nós aspiramos à
perfeição e ao bem, mas isso só pode acontecer se o Reino de Deus descer a
Terra, que é precisamente o objetivo de Jesus.
Embora os três
níveis de realidade estejam sempre presentes, o ser humano tem de se elevar a
uma consciência espiritual superior para englobar os três mundos em
simultâneo.
Quando Jesus disse:
“Eu e o Pai somos um”, ele demonstrou que, para ele, era natural ver tudo, Deus
e o Universo, ao mesmo tempo.
Analisando os
evangelhos canónicos e os textos apócrifos mais importantes, como por exemplo o
Evangelho de Tomé, constata-se que Jesus vê Deus
como uma luz pura que emana em todos os recantos do Universo.
Por isso, Jesus
proclamou no Sermão da Montanha:“Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder
uma cidade situada sobre um monte, nem se acende a candeia para a colocar
debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assm alumia a todos os
que estão em casa. Assim brilhe a
vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras,
glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.”
Tal como Buda e
outros mestres que alcançaram a iluminação divina, Jesus queria que as seus
seguidores e todos os seres humanos em geral se tornassem igualmente iluminados.
De facto, a forma
por excelência de seguir os ensinamentos de Jesus é procurar atingir o estado
de consciência dele. Alcançar a consciência de Cristo significa percorrer o
mesmo caminho que ele percorreu para alcançar a iluminação e a união com Deus,
a Fonte da Existência, da Vida e do Amor.
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