O Reino de Deus constitui o eixo central da
vivência de Jesus. Com efeito, a sua proclamação constitui o sentido
fundamental da sua vida e a utopia referenciadora da sua mensagem, bem como de muitos homens e mulheres ao longo do séculos.
Contrariamente ao que tem sido preconizado muitas
vezes ao longo dos tempos e inclusive nos nossos dias, o Reino não é a
promessa da felicidade celestial, mediante a contemplação da essência de Deus
para os que cumprem os seus mandamentos e as regras das instituições eclesiais.
O Reino de Deus é a proclamação de uma vida
digna, justa e feliz para todos. É um apelo à fraternidade universal. Expressa
a manifestação do amor compassivo e infinito de Deus no percurso da Humanidade,
visando a constituição de uma ordem social estruturada de modo a assegurar a
todas as pessoas a salvaguarda da sua dignidade e do seu direito a uma vida
livre e feliz.
Hans Küng
assinala que o Reino é a causa de Deus
no mundo, que se identifica com a causa do bem-estar total do ser
humano. No mesmo sentido, E. Schillebeeckx disse que o Reino é a causa de Deus como causa
do Homem ou a causa de seres humanos como causa de Deus (a salvação definitiva
da parte de Deus para a Humanidade).
O projeto do Reino de Deus é uma utopia, tendo simultaneamente
um caráter histórico e meta histórico, na medida em que não é plenamente
realizado na história humana. Como refere J.M. Castillo: ”O projeto do Reino de
Deus é realizável na medida em que há grupos de tipo comunitário que se dispõem
a vivê-lo, não como una meta já alcançada, mas como um projeto dinâmico, como
uma tarefa a realizar paulatina e progressivamente”.
O Reino de Deus é uma afirmação pela vida em as
todas as suas dimensões. É uma aposta pela dignidade de todos os seres criados,
não apenas dos seres humanos, mas também de todos os seres existentes no nosso
planeta e no vasto Universo no qual este está inserido. Para além da sua
dimensão social, tem uma dimensão cósmica. Conforme afirma J.J. Tamayo, “o
Reino de Deus afirma a vida indivisível, em todas as suas dimensiones, na sua plenitude,
para a natureza e o cosmos. Só assim pode falar-se de vida digna e com sentido”
Leonardo.Boff
considera que o Reino de Deus é a expressão que designa “a utopia do coração humano, a total libertação de todos os
elementos que alienam e estigmatizam este mundo, como sofrimento, dor, fome,
injustiça, divisão e morte, não somente para o Homem, mas para toda a
Criação.”.
Quando se fala de Criação, é relevante referir
que Deus não criou o Universo de uma forma definitiva. A evolução não contraria
a ação criadora e criativa de Deus. O Espirito de Deus está dentro do Universo,
gerando contínua e evolutivamente os mistérios da vida. Deus é o fundamento da
energia criativa do Universo, o princípio e o fim, o alfa e o ómega. Whitehead
afirmou que Deus é simultaneamente motor, garantia e meta do Universo.
A pessoa humana é chamada a colaborar ativamente
na evolução da Criação, nomeadamente no planeta Terra, não para ser dona e
dominadora, mas para ser guardiã da Natureza, tendo a responsabilidade de assegurar
a sua proteção e salvaguarda, de modo que os seus recursos possam ser utilizados
em prol da dignidade e da felicidade de todos os que habitam o nosso planeta.
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