quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O Cristo Filósofo

O livro “O Cristo Filósofo”, publicado em Portugal pela editora Caleidocóspio, tem a autoria de Frédéric Lenoir, historiador e pesquisador associado à Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales e é diretor da revista “Le Monde des Religions”. É igualmente autor de ensaios e romances históricos. 
A presente obra pretende ser uma apresentação da figura de Jesus Cristo, de sua autêntica mensagem e de sua real influência na História da Humanidade. Por esse motivo, pode ser classificado como uma Cristologia Filosófica. Tem a pretensão de seguir a intuição de Erasmo de Roterdão que, no século XVI, reutiliza uma expressão dos pensadores cristãos de Alexandria do século II E.C.: a “Filosofia de Cristo”. 
Erasmo aspirava a um projeto de pedagogia humanista que tornasse possível o acesso à essência do Cristianismo, sem que fosse necessário o recurso a argumentos dogmáticos.
Nesse sentido, Lenoir faz uma apresentação crítica do Cristianismo como uma deturpação histórica da mensagem original de Jesus.
Mas também reconhece que o Cristianismo não está somente marcado pela perversão e nem se reduz a ela. Apesar das fogueiras da Inquisição, das conversões forçadas, das cruzadas e das cumplicidades com poderes terrenos autocráticos, a história do Cristianismo também é aquela dos bispos, que criam asilos para acolher os pobres e os doentes, dos mártires, que se recusam a abjurar da fé, dos monges, que renunciam a tudo para união mística com o divino, que consagram sua vida aos mais vulneráveis, dos defensores dos direitos humanos e de um sem número de crentes que praticam o bem em nome de sua fé.
No coração do Cristianismo, encontra-se uma mensagem de um tão alto valor ético que marcou o percurso histórico da Humanidade.
Contudo, na perspetiva do autor, a Igreja institucional traiu os ideais de Jesus. Com efeito, não raras vezes, as diversas Igrejas cristãs, embora tenham desempenhado um papel muito importante na transmissão dessa mensagem, evitaram confrontar suas práticas com a mensagem que anunciavam, pois isso ameaçaria o seu desenvolvimento e o seu domínio.
Lenoir regista o que chama de suprema ironia da história, no surgimento moderno da laicidade, dos direitos humanos e da liberdade de consciência, nos séculos XVI, XVII e XVIII, ainda que à revelia das Igrejas, como produto de um recurso implícito ou explícito à mensagem original do Evangelho.
O que ele chama de “Filosofia de Cristo”, os seus ensinamentos éticos mais fundamentais, ressurgem, não mais pela “porta” das Igrejas, mas pela “janela” de cristãos esclarecidos e críticos e dos humanismos do Renascimento e do Iluminismo.
A mensagem de Jesus pode ser lida em vários níveis: sobretudo na sua dimensão religiosa. Mas ele também transmitiu um ensinamento ético de caráter universal: a não-violência, a igual dignidade entre todos os seres humanos, justiça e partilha, o primado do indivíduo sobre o grupo e a importância da liberdade de escolha, a separação do político e do religioso, o amor ao próximo indo até ao perdão e amor aos inimigos.
Tudo isso fundamentado na revelação de um Deus como Fonte do Universo, da Vida e do Amor e numa perspetiva profundamente humanista aberta à transcendência.
Essa mensagem ética é uma verdadeira sabedoria, no sentido de como a entendiam os filósofos gregos. 
Por conseguinte, o Cristianismo dos nossos dias precisa de recuperar a essência da mensagem de sabedoria  universal de Jesus. Mais, carece de uma reforma das suas instituições, da sua teologia e da sua espiritualidade, mediante a reformulação da doutrina de uma maneira coerente e compreensível para a sociedade contemporânea, a revalorização da mística e a defesa de um modelo de desenvolvimento baseado no respeito pela dignidade da pessoa humana e pela Criação.
 

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