segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O crescimento do cristianismo primitivo: uma breve abordagem


Em apenas três séculos, o Cristianismo passou de um movimento religioso minoritário surgido na Palestina, um território localizado na periferia do Império Romano, para a categoria da religião oficial desse mesmo Império, sem a imposição da lei e das armas.
Nos últimos anos, tem sido efectuada uma intensa investigação nos domínios da História, das Ciências Sociais e da Teologia, contribuindo para um conhecimento mais fundamentado do processo de crescimento do Cristianismo primitivo.
Tal como noutros domínios da actividade humana, na vida da Igreja, um conhecimento cada vez mais aprofundado e fundamentado do passado pode ser uma via sólida para compreender o presente e preparar o futuro. Deste modo, é da maior relevância destacar as causas deste processo histórico verdadeiramente extraordinário.
O Cristianismo primitivo foi um movimento religioso socialmente transversal, que abrangeu os diversos estratos sociais, com a sua diversidade de interesses, costumes e modos de vivência. A heterogeneidade social do Cristianismo primitivo e o seu êxito em unir interesses sociais potencialmente divergentes foi uma característica singular, comparativamente a outros movimentos religiosos da época.
O segundo factor digno de menção é o carácter profusamente solidário das comunidades cristãs, numa sociedade caracterizadas por fortes injustiças e desigualdades, entre as quais a escravatura. Para além de apresentarem uma mensagem de salvação espiritualmente poderosa, as comunidades cristãs praticavam o amor ao próximo com maior intensidade que outros grupos, cuidando das pessoas mais vulneráveis, como as crianças, os idosos e as viúvas. Numa época histórica marcada por epidemias, que dizimaram a população do Império Romano e das regiões vizinhas, constatou-se um claro contraste entre a maioria da população, que fugia dos doentes, e os cristãos, que se dedicavam a cuidar não só dos seus enfermos, mas de toda a comunidade. Por isso, são abundantes os testemunhos de pessoas cuja primeira atracção ao Cristianismo se deveu à obra de solidariedade dos crentes, ainda que com o risco de suas próprias vidas.
O terceiro factor, que merece destaque, foi o papel dos cristãos de origem judaica. A maioria esmagadora dos judeus residia fora da Palestina, estando dispersa pelas diversas províncias do Império Romano e por territórios situados fora do Império, como a Mesopotâmia (actual Iraque), a Pérsia (actual Irão) e a Península Arábica. Existem evidências de que uma grande parte dos judeus da Diáspora contribuiu para as adesões ao Cristianismo não apenas nos séculos I e II, mas também até por volta do século V, aproveitando para o efeito as redes sociais existentes entre as diversas comunidades judaicas.
Por fim, o quarto factor relevante na expansão do Cristianismo primitivo foi o papel das mulheres. Existem fortes indícios de que as mulheres aderiram fortemente ao Cristianismo e contribuíram claramente para a sua difusão, o que se deve ao facto da mensagem cristã valorizar a dignidade da mulher, o que contrastava com os valores fortemente discriminatórios e patriarcais, então vigentes, tanto na sociedade judaica como na sociedade greco-romana.
A propor uma ética baseada na valorização da dignidade da pessoa humana, o Cristianismo não apenas abalou as estruturas do Império, mas marcou para sempre a História da Humanidade.

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