domingo, 6 de novembro de 2011

Os novos rumos do mapa mundial


A escolha da Rússia e do Qatar para a organização dos Campeonatos Mundiais de Futebol de 2018 e 2022, respetivamente, constitui uma decisão estratégica que extravasa a dimensão desportiva.
Constitui um verdadeiro sinal dos tempos. O mapa mundial centrado no Atlântico é cada vez mais uma ideia do passado.
As novas potências emergentes estão a promover uma progressiva deslocação do poder político e económico para o Oriente.
Nos últimos cinco séculos, houve duas grandes mudanças na distribuição de poder que reformularam a vida internacional, nas dimensões política, económica e cultural.
A primeira foi a ascensão da Europa, um processo que começou no século XV e acelerou-se imensamente no final do século XVIII. Ela produziu a modernidade, tal como a conhecemos: a ciência e a tecnologia, a democracia liberal, o capitalismo, as revoluções agrícola e industrial. Produziu também o prolongado domínio político das nações europeias a nível planetário.
A segunda mudança, que aconteceu nos últimos anos do século XIX e nos primeiros anos do século XX, foi a ascensão dos Estados Unidos da América. Na sequência de um processo marcado por uma forte industrialização e pela consolidação da democracia pluralista como regime político, os Estados Unidos tornaram-se uma nação mais poderosa e mais forte do que qualquer combinação provável de outras nações. Durante a maior parte do último século, os Estados Unidos da América dominaram a economia, a política, a ciência e a cultura mundiais. Nas últimas duas décadas, após o colapso da União Soviética, esse domínio foi sem rival, um fenômeno inédito na história moderna, fazendo lembrar o poderio do Império Romano nos primeiros séculos da nossa era
Atualmente, estamos a viver o surgimento de uma nova realidade geopolítica e geoeconómica, marcada pela ascensão de paises não ocidentais, nomeadamente dos quatro BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).
Ao longo das últimas décadas, os países não ocidentais de todo o mundo têm tido taxas de crescimento econômico que eram outrora impensáveis.
No princípio do século XIX, o atual Ocidente representava 28% da economia mundial. Em 1913, um ano antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial, chegou aos 57%. Em 2005, o mundo não ocidental, pela primeira vez nos últimos duzentos anos, voltou a representar mais de 50% da economia do nosso planeta.
Esse crescimento tem sido mais visível na Ásia, mas não está mais restrito a ela. Por isso, chamar essa mudança de “ascensão da Ásia” não a descreve corretamente.
Olhemos em volta. O edifício mais alto do mundo está agora em Taipei e será superado, em breve, por um em construção em Dubai. O homem mais rico do mundo é mexicano. O maior avião do mundo está sendo fabricado na Rússia e na Ucrânia, a maior refinaria está em construção na Índia, e as maiores fábricas estão todas na China. O Brasil é uma potência económica e política a nível global. Simbolos outrora essencialmente americanos foram apropriados por estrangeiros. A maior roda-gigante está em Singapura. O maior casino não está em Las Vegas, mas em Macau, que se tornou na capital mundial do jogo. A maior indústria cinematográfica, em termos de filmes produzidos e ingressos vendidos, é Bollywood, na Índia.
Pela primeira vez em cinco séculos, estamos a testemunhar uma deslocação da centralidade do poder político e económico do Atlântico para o Oriente. Mas isto não significa o declínio inevitável do Atlântico. O papel do Atlântico dependerá crucialmente da capacidade de inovação da Europa e da sua capacidade para promover uma aliança estreita com os Estados Unidos da América, num mundo cada vez mais globalizado.

Sem comentários:

Enviar um comentário