sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Sermão da Montanha: o manifesto de Jesus


"A mensagem de Jesus, tal como como eu a compreendo, está contida no Sermão da Montanha. O espírito do Sermão da Montanha rivaliza no domínio do meu coração, usando de armas aproximadamente iguais, com a Bagavaguitá (livro sagrado por excelência do hinduísmo). Foi este Sermão da Montanha que me fez amar Jesus”.
Quem pronunciou estas palavras não foi nenhum cristão, mas sim Mahatma Gandhi, uma das personalidades mais marcantes da história do século XX, hindu de confissão, mas um profundo admirador de Jesus e da sua mensagem.
Ao longo dos séculos, o Sermão da Montanha não tem cessado de interpelar cristãos e não cristãos.
Com efeito, o Sermão da Montanha é o principal discurso de Jesus que pode ser lido nos Evangelhos de Mateus e de Lucas, que se inspiraram no fonte Q, a coleção primordial das afirmações de Jesus.
No Sermão da Montanha, Jesus profere lições de conduta e moral, ditando os princípios que orientam a verdadeira vida que conduz a Humanidade ao Reino de Deus e que põe em prática a vontade de Deus, que leva à verdadeira libertação da pessoa humana.
Este discurso pode ser considerado por isso como um resumo dos ensinamentos de Jesus a respeito do Reino de Deus, do acesso ao Reino e da transformação que esse Reino produz.
Além de importantes princípios ético-morais, pode-se notar grandes revelações, pois aquilo que muitas vezes é tido por ruim, desagradável ou inconveniente, diante de Deus é o que realmente vai levar à verdadeira felicidade. Esta passagem forma um paradoxo, contrariando as ideias muitas vezes vigentes nas sociedades humanas e mais uma vez mostrando que "Deus não vê como o homem vê, o homem vê a aparência, mas Deus sonda o coração", conforme refere o 1.º Livro de Samuel, um dos livros do Antigo Testamento.
No Sermão da Montanha, os evangelistas apresentam Jesus como o novo Moisés, daí o discurso ser proferido numa montanha, pois Moisés tinha recebido os Dez Mandamentos no monte Sinai.
Mas, Jesus não veio para abolir a Lei ou os Profetas, mas sim completá-los na sua íntegra. De facto, houve quem visse no Sermão da Montanha, de forma abusiva, a “Lei de Cristo”, em substituição da Torah, a Lei judaica revelada por Deus a Moisés e aos demais profetas do Antigo Testamento.
Longe de ser uma pessoa contrária à Torah, Jesus enraizou os seus ensinamentos naqueles que tinham enquadrado a vivência do povo de Israel durante séculos. A sua missão não era revogar ou anular a Torah, mas promover a sua plenitude.
De facto, Jesus valoriza e reinterpreta, a Lei revelada por Deus na sua íntegra, particularmente os Dez Mandamentos, tendo por objetivo levá-los à perfeição. Jesus diz mesmo: “Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição. Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um traço da lei. Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos Céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos Céus”.
As Bem-Aventuranças são o anúncio da verdadeira felicidade, porque proclamam a verdadeira e plena libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino de Deus através da palavra e ação de Jesus, que tornam a justiça divina presente no mundo. A verdadeira justiça para aqueles que são inúteis, pobres ou incómodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime.
As Bem-Aventuranças revelam também o caráter das pessoas que pertencem ao Reino de Deus, exortando as pessoas a seguir este caráter exemplar. Jesus, através das metáforas de Sal e de Luz, revela a enorme responsabilidade do testemunho e da ação dos discípulos, que é sobretudo preservar e proteger a Humanidade contra as influências malignas da corrupção e da maldade (a função do Sal) e ajudar a Humanidade a conhecer, através da sua fé e do seu bom exemplo iluminadores, o caminho da salvação (a função da Luz).
No fim desta reinterpretação da Lei de Deus feita por Jesus, ele apela aos homens para, se eles quiserem ser os verdadeiros filhos de Deus, amar não só o seu próximo, mas também os seus inimigos, fazendo bem aos que os odeiam e orando pelos que os maltratam e perseguem, tal como Deus, que faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.
Jesus exorta todos os seres humanos, com esta prática de amor incondicional e supremo, serem perfeitos, tal como Deus, que é também perfeito.
A seguir à reinterpretação da Lei de Deus, Jesus critica a ostentação na prática de 3 obras fundamentais do Judaísmo, que são a esmola, o jejum e a oração. Ele não pretende condenar a observância fiel e honesta destas obras boas e o bom exemplo que estas ações produzem, mas somente o desejo vão de ostentar em frente de outras pessoas.
Durante o seu discurso, Jesus ensinou aos homens a mais célebre oração de todos os tempos: o Pai-Nosso.
Jesus afirma também que se perdoarmos uns aos outros as nossas ofensas, o nosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoarmos, o nosso Pai não nos perdoará.
Também sobre a oração, ele exorta por fim aos seus discípulos que deviam sempre ter confiança na oração e particularmente em Deus, porque Ele dará boas coisas aos que lhe pedirem durante a oração.
Jesus, condenando o materialismo, exorta os seus discípulos para não se preocuparem demasiado com os seus bens e as suas necessidades materiais, mas sim, preocupar-se mais e em primeiro lugar em guardar tesouros no céu, para preparar o acesso ao Reino de Deus. Sobre a riqueza, Jesus alerta os seus discípulos para o facto de ser impossível servir ao mesmo tempo a Deus e à riqueza. E, relativamente às necessidades materiais dos homens e às suas preocupações quotidianas, Jesus apela para a confiança na providência divina, afirmando que “vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso e que o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado”.
Jesus alerta para as dificuldades que os seus discípulos, que pretendem ser os verdadeiros filhos de Deus, irão encontrar no caminho estreito e apertado que conduz à vida eterna e ao Reino de Deus (o chamado caminho da vida).
No Sermão da Montanha, Jesus proclama a Regra de Ouro da ética universal, ao dizer: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os Profetas”. Ao pronunciar estas palavras, Jesus reconhece e valoriza a ética da reciprocidade, que se encontra presente nas grandes religiões e culturas da Humanidade.
Concluindo o Sermão da Montanha, Jesus apela, por fim, aos seus discípulos para, depois de escutar as suas palavras e ensinamentos, pô-los verdadeiramente em prática, para serem semelhantes a um homem prudente que edificou sua casa sobre a rocha. A rocha assemelha-se à Palavra de Deus, que serve como fundamento e sustenta todas as pessoas que a colocam na prática, protegendo-as e ajudando-as a ultrapassar todos os obstáculos e dificuldades que elas poderão encontrar ao longo da sua existência.

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